Mioma, também conhecido como leiomioma ou fibroma são tumores benignos que representam a maior causa de sangramento uterino anormal. Raramente sofrem transformação maligna (< 0.5{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}) e são considerados comuns. Algumas estimativas apontam que metade das mulheres desenvolverão miomas durante a vida fértil. A maioria dos miomas são assintomáticos e atualmente representam a indicação mais comum para retirada do útero, a histerectomia.
Os miomas costumam se desenvolver durante o menacme, ou seja, período que inicia-se a partir da primeira menstruação e se estende até a menopausa. Esses tumores costumam regredir a partir do momento em que a mulher para de menstruar.
Os miomas são originários das células do músculo liso do útero, porém, mais raramente podem originar-se dos vasos sanguíneos.
Podem variar de apenas alguns milímetros de tamanho até tumores imensos. Há registros de um mioma de 13 kg e 52 cm retirado de uma mulher de 52 anos na Índia.
Representam mais de 90{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} de todos os tumores benignos do trato genital feminino. Pelo fato de muitas vezes não apresentarem sintomas e regredirem após a menopausa, estimar sua incidência é quase impossível. Porém, em estudos realizados após exame de necropsia, a frequência mostrou ser maior que 50{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}.
A classificação dos miomas é feita observando a localização dos tumores. Observe a imagem abaixo para entender melhor:
Como dito anteriormente, a maior parte dos miomas são assintomáticos. Porém, em alguns casos, podem apresentar sintomatologia:
Sangramento menstrual excessivo: é o sintoma mais comum associado a esses tumores e costuma ser notado pelas pacientes. Ocorre devido as alterações vasculares do endométrio. No início, acompanham a menstruação, mas com a evolução da doença, começam a ocorrer sangramentos fora do ciclo menstrual (metrorragia). É um sintoma mais associado a miomas do tipo submucoso, pois estes costumam projetar-se para dentro do útero.
Dor pélvica crônica: as dores relacionadas aos miomas podem aparecer de diversas maneiras. Podem acompanhar o ciclo menstrual, pode ocorrem durante a relação sexual e podem ser acíclicas.
Aumento da frequência urinária e constipação: os tumores podem pressionar a bexiga, provocando aumento do número de idas ao banheiro. Caso haja tumores localizados posteriormente, podem surgir sintomas de pressão retal e vontade contínua de evacuar.
Infertilidade: Miomas submucosos e intramurais estão associados e uma maior taxa de abortamento e infertilidade pois dificultam a implantação do zigoto no útero. Apesar desse fato, miomas como causa isolada de infertilidade ainda causam controvérsia entre os especialistas. A estimativa é de que 5-10{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} das mulheres que não conseguem engravidar apresentam a doença.
Exame físico: quanto há presença de útero volumoso (> 300 cm cúbicos de volume), o médico pode conseguir palpar o mioma ao realizar o toque bimanual. Em miomas maiores, pode ocorrer também o aumento da circunferência abdominal, facilitando o diagnóstico
O diagnóstico definitivo é realizado com a ajuda de exames complementares associado aos sinais e sintomas apresentados pela paciente.
Ultrassom Abdominal/Transvaginal: é o exame mais utilizado para o diagnóstico por ser não invasivo, barato e rápido. O transvaginal leva vantagem sobre o abdominal por fornecer informações adicionais. Miomas são compatíveis com o laudo radiológico de formações nodulares hipoecóicas.
Ressonância Magnética: é o padrão ouro no diagnóstico dos miomas pois consegue fornecer o tamanho e localização exata das lesões, porém é caro e pouco disponível, e por esses motivos costuma ser substituído pelo exame de ultrassom.
Histerossalpingografia: não costuma ser utilizado no diagnóstico de miomas, porém é útil no esclarecimento de infertilidade pois avalia a permeabilidade das tubas uterinas.
O tratamento vai depender de uma série de fatores. Em pacientes jovens que não possuem sintomas (mesmo em casos de úteros volumosos) ou mulheres na perimenopausa, a conduta costuma ser expectante. Nesses casos, após o primeiro ultrassom mostrando a presença de tumores benignos, é ideal realizar outro entre 6-8 semanas. Caso não haja alteração de tamanho e os diâmetros permanecerem estáveis, a conduta continua expectante e novos exames devem ser realizados em 1 ano. Miomas com crescimento rápido ou qualquer crescimento em mulheres pós-menopausa devem servir de sinal de alerta para malignidade.
Para pacientes sintomáticas, está indicado o tratamento com medicamentos. O objetivo é de melhorar os sintomas e diminuir o tamanho dos tumores.
Análogos do GnRH: é o medicamento de escolha para iniciar o tratamento. Há redução de aproximadamente 50{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} do tamanho dos tumores e melhora significativa dos sintomas. Ele age como agonista do hormônio natural produzido pelo hipotálamo, bloqueando o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. De início, há um aumento da produção de gonadotrofinas (LH e FSH) pela própria sensibilização dos receptores dessa região, porém após 2-3 semanas, ocorre a fase de downregulation desses mesmos receptores, diminuído drasticamente os níveis de estrogênio no sangue. Como os miomas são extremamente sensíveis a esse hormônio, a sintomatologia melhora e o volume das lesões diminuem.
Efeitos colaterais podem ocorrer incluindo fogachos, diarreia, constipação, tontura, cefaleia, ressecamento de mucosas, distúrbio do perfil lipídico, entre outros.
Andrógenos: neste grupo de medicamentos são utilizados o Danazol e a Gestrinona. São menos prescritos porém possuem bons efeitos para o tratamento da doença. As duas medicações induzem a paciente a parar de menstruar, melhorando a sintomatologia. Gestrinona tem vantagens sobre o Danazol, visto que além da capacidade de diminuir o tamanho das lesões de maneira mais efetiva, seu efeito permanece até 1 ano e meio após a interrupção de seu uso.
Mirena: O dispositivo intrauterino de liberação de levonorgestrel também pode auxiliar no tratamento. Ao liberar lentamente progesterona dentro do útero, a paciente para de menstruar e os sintomas consequentemente melhoram.
A cirurgia é o tratamento definitivo para a miomatose uterina. Está indicada para mulheres que respondem mal a medicação oral e continuam com sangramento anormal e sintomatologia de dor. Quando há suspeita de malignidade, infertilidade causada pela miomatose e abortos recorrentes, também está indicada a intervenção cirúrgica. Na prática médica, são 3 os tipos mais comuns: histerectomia total (retirada completa do útero e seus anexos), miomectomia (retirada apenas dos miomas) e a embolização da artéria uterina, conhecida como EAU. Por serem procedimentos invasivos obviamente existe a possibilidade de complicações tanto orgânicas quanto psicológicas. Vamos abordar cada uma delas:
Miomectomia: este procedimento está indicado para mulheres que ainda desejam ter filhos ou não desejam retirar o útero. Pode ser realizado via vaginal principalmente para miomas submucosos ou por via abdominal (vídeo ou laparotomia) no caso de miomas intramurais ou subserosos.
Com o avanço das técnicas operatórias, muitos miomas intramurais e subserosos são retirados via vaginal. Porém, essa é uma decisão que pertence a equipe médica. A grande desvantagem da miomectomia é a reincidência dos tumores em até 60{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} dos casos. A necessidade de uma reabordagem varia entre 20-25{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}. Recomenda-se aguardar de 3 a 6 meses para engravidar após o procedimento.
Histerectomia Total: é o tratamento definitivo para a miomatose uterina. Está indicada para pacientes que não desejam mais ter filhos e apresentam sintomatologia intensa. Pode ser realizada por via vaginal ou abdominal. A cirurgia por via vaginal tem enormes vantagens como a recuperação mais precoce, menores índices de dor e de complicações pós-operatórias.
Não há possibilidade de recorrência de miomas em mulheres histerectomizadas. Por ser um procedimento maior, as complicações também aumentam: hemorragias, infecções, lesão ureteral e vesical, lesão intestinal e possibilidade de fístulas.
Muitas mulheres demonstram arrependimento após a histerectomia. Isso porque mesmo certa de que não querem mais engravidar, muitas vezes ocorre a troca de parceiro e o desejo de ser mãe se acende novamente. Além disso, parte da população relaciona o útero com a feminilidade e sua retirada pode implicar em consequências psicológicas. Dessa maneira, é de extrema importância o aconselhamento pré-operatório e o esclarecimento de possíveis dúvidas.
EAU: embolização ou ablação da artéria uterina é realizada por um médico radiologista intervencionista. É pouco utilizada no Brasil. O procedimento diminui o suprimento sanguíneo para o útero causando necrose dos miomas.
É realizado em curto espaço e a recuperação pós-operatória é melhor em comparação a histerectomia. O índice de sucesso é de 60{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}, porém, ainda não está claro os seus efeitos sobre a fertilidade e portanto não está recomendada para pacientes que ainda desejam engravidar.