A Toxoplasmose é uma doença causada pelo parasita intracelular Toxoplasma gondii, que circula em todo o mundo. Praticamente todos os animais de sangue quente podem ser hospedeiros (ou seja, estarem infectados) pelo parasita da Toxoplasmose. Porém, quando falamos em Toxoplasmose sempre nos vêm à cabeça os gatos. Estes têm um papel importante na doença, porque os felinos são os únicos hospedeiros definitivos da Toxoplasmose (enquanto o homem é um hospedeiro intermediário), como veremos adiante.
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Na maioria dos casos a infecção pelo parasita da Toxoplasmose é assintomática. Em apenas 10{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} das infecções ocorrem sintomas, que geralmente são semelhantes aos da Mononucleose Infecciosa. Uma rara parcela desses casos sintomáticos tem complicações mais graves como miocardite, pneumonite e polimiosite. Porém, a Toxoplasmose pode ser fatal para pacientes imunocomprometidos, especialmente os portadores de HIV com AIDS, onde o principal problema é a Toxoplasmose cerebral.
O causador da Toxoplasmose é um parasita do tipo protozoário, chamado Toxoplasma gondii, que tem um ciclo de vida dividido em fase sexuada e assexuada, de acordo com sua reprodução.
O ciclo sexuado (onde ocorre troca de gametas para a reprodução) acontece apenas no intestino dos felinos. Assim os gatos, por exemplo, eliminam os chamados oocistos em suas fezes. Esses oocistos são como “bolsas” ou “ovos” contendo uma enorme quantidade do parasita na forma de esporozoítos, que podem permanecer vivos durante meses no ambiente e são altamente infectantes (ou seja, a chance de alguém que teve contato com um oocisto ser infectado pelo Toxoplasma é muito grande).
Já no ciclo assexuado, o que ocorre em nós humanos, existem duas formas do parasita: os taquizoítos e os bradizoítos. Os taquizoítos são a forma presente na fase aguda (recente) da infecção. Estes se multiplicam rapidamente e precisam estar dentro de células para se reproduzirem.
De 4 a 6 horas, eles rompem a célula onde estão e infectam outras células, podendo ainda se disseminar pelo sangue e vasos linfáticos, atingindo outros órgãos e tecidos.
Já os bradizoítos têm uma reprodução mais lenta e formam os cistos, que são agregados do parasita em um local específico de um tecido. Começam a ser formados depois de algumas semanas após a infecção e podem ficar no hospedeiro durante toda sua vida sem causar danos. Porém, quando causam inflamação no indivíduo infectado, pode trazer problemas principalmente no cérebro, na retina e nos músculos estriado esquelético e cardíaco.
Na maioria (80-90{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}) dos adultos e crianças imunocompetentes (ou seja, com um sistema imunológico funcionando corretamente), a infecção por Toxoplasma é assintomática. Em 10-20{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} dos casos pode ocorrer uma síndrome febril, com sintomas semelhantes à Mononucleose Infecciosa, incluindo febres baixas e linfonodomegalia (gânglios linfáticos ou linfonodos aumentados) principalmente na região cervical posterior (na nuca), que pode durar por até um mês.
Essa falta de sintomas em imunocompetentes pode dificultar o diagnóstico da doença na gravidez, e por isso é muito importante que as futuras mães façam um pré-natal corretamente.
Os sintomas e complicações da doença são importantes principalmente em imunocomprometidos, ou seja, pessoas que estão com seu sistema imunológico debilitado de alguma forma, tais como portadores de HIV, pacientes com câncer hematológico (como a leucemia) ou em tratamento quimioterápico.
Nesses pacientes, os principais sintomas e complicações envolvem o Sistema Nervoso Central (causando encefalite ou a chamada Toxoplasmose cerebral), o coração (miocardite) e os pulmões (pneumonite). Mesmo pacientes que já eram imunes contra o parasita por uma infecção passada podem adquirir sintomas dessas complicações, por conta da reativação de cistos nos tecidos.
A toxoplasmose é transmitida principalmente pela ingestão dos oocistos contendo bradizoítos em alimentos contaminados mal preparados, tais como carnes (especialmente de porco e de carneiro) e vegetais mal cozidos, ovos crus e leite não pasteurizado. Além disso, pode-se adquirir por contato direto com as fezes de gatos contaminados, que contêm os oocistos. Por isso, é importante cuidados especiais com gatos em casa, evitando encostar nas fezes diretamente, usando luvas para retirada destas e caixinha de areia em um canto recluso da casa.
Outras formas de transmissão incluem a contaminação por transfusão sanguínea e transplante de órgãos e a placentária.
A Toxoplasmose, porém, não é transmitida de pessoa para pessoa.
É muito importante que todas as futuras mães façam exames pré-natal corretamente, para afastar os problemas que uma infecção por Toxoplasmose pode acarretar ao bebê. Isso porque, como vimos logo acima, a maioria das infecções por Toxoplasmose são assintomáticas em pessoas com um bom sistema imunológico, e a infecção pode passar muitas vezes despercebida pela mulher gravida, antes da gravidez ou no período desta.
A gravidade da infecção para o bebê depende principalmente do nível da resposta imunológica da mãe e do período da gestação (bebês expostos mais cedo têm maior chance de sofrer complicações).
Confira as seções de Diagnóstico, Tratamento e Prevenção logo abaixo para se informar melhor.
A retina é uma das áreas de infecção mais acometidas pelo Toxoplasma gondii. Por isso, a coriorretinite é uma das principais complicações de uma infecção de Toxoplasmose.
A infecção inicia pela retina, e pode se expandir até a coróide e a esclera, por conta da resposta inflamatória. Caso a infecção aguda seja controlada, o paciente pode se curar por conta da cicatrização no local.
A complicação é rara em pacientes imunocompetentes, mas já foram relatados casos. É mais comum nos bebês infectados e em imunocmoprometidos. Os principais sintomas são visão borrada, perda visual, fotofobia e dor.
O diagnóstico da Toxoplasmose, na rotina da prática clínica, é feito por meio da Sorologia, ou seja, pesquisa de anticorpos do nosso corpo que aumentam em uma infecção por Toxoplasma.
Podemos dividir os anticorpos de nosso corpo em IgM e IgG. Os anticorpos IgM são os primeiros produzidos numa infecção e, assim, indicam que esta é recente (aguda). Já anticorpos IgG são produzidos numa fase mais tardia, indicando que a infecção já não é mais tão recente.
No diagnóstico da Toxoplasmose, pesquisamos tanto IgG como IgM para estabelecer há quanto tempo foi a infecção. Um aumento de IgM (IgM reagente) em um paciente com aqueles linfonodos aumentados que falamos logo acima provavelmente tem infecção aguda e deverá ser tratado. Um aumento de IgG (IgG reagente) e baixo IgM indica que há infecção, mas não é recente.
No paciente com HIV devemos fazer mais avaliações: além da sorologia indicando que o paciente é infectado, é importante avaliar a apresentação clínica e usar exames radiológicos para avaliar danos especialmente no cérebro, área comum de afecção pela Toxoplasmose no portador de HIV.
Para o diagnóstico da infecção congênita em uma grávida infectada por Toxoplasma, é feito a pesquisa do líquido amniótico pelo gene B1 de T. gondii. O diagnóstico sorológico é feito logo após o nascimento do bebê, onde um aumento de IgM em torno da primeira semana de vida indica infecção aguda que deve ser tratada. A pesquisa do bebê ainda pode ser acrescida de exames dos olhos e do cérebro.
A Toxoplasmose tem cura, e o tratamento depende da situação do paciente. Não há vacina para Toxoplasmose, sendo a profilaxia feita principalmente com Cotrimoxazol, como veremos adiante. Podemos dividir o tratamento da Toxoplasmose da seguinte forma:
Neonatos que tiveram infecção congênita são tratados com doses diárias orais de Sulfadiazina (100 mg/kg) com Ácido Folínico e Pirimetamina (1 mg/kg) durante 1 ano. Dependendo dos sinais e sintomas, pode ser usado também Prednisona (1 mg/kg/dia).
É importante tratar a mãe na gravidez mesmo que o neonato nasça infectado, pois estudos sugerem que o tratamento materno pode diminuir a severidade da infecção no bebê.
Adultos e crianças imunocompetentes que só tiveram como sintoma a linfadenopatia não precisam ser tratados, a não ser que tenham sintomas mais sérios.
No caso de aparecer Toxoplasmose ocular, são tratados com um mês de Pirimetamina com Sulfadiazina ou Clindamicina, além de Prednisona em alguns momentos. É importante o acompanhamento de um oftalmologista nesse tratamento.
Pacientes com AIDS e infecção aguda por Toxoplasmose precisam ser tratados. Na falta de tratamento, a infecção é fatal.
Pacientes com AIDS, soropositivos para Toxoplasma gondii assintomáticos e com contagem de linfócitos CD4+ menor que 100/microL precisam receber profilaxia para Toxoplasmose. Essa profilaxia é feita com doses diárias de Sulfametoxazol + Pirimetamina (Cotrimoxazol). Alternativas incluem Dapsona + Pirimetamina, ou ainda Atovaquona com ou sem Pirimetamina.
Em paciente com AIDS fazendo a Terapia Antirretroviral (TARV) corretamente e com contagem de linfócitos CD4+ maior que 200/microL por 3 meses, pode-se parar a profilaxia.
Especialmente para o paciente infectado com HIV, é importante fazer sempre a prevenção da Toxoplasmose, evitando comer carnes mal cozidas e fazendo a higiene de alimentos vegetais adequadamente. Ainda, é importante tomar especial cuidado com caixinhas de gatos em casa, fazendo a limpeza de forma protegida. Para pacientes com HIV o ideal, é claro, é não ter felinos em casa, já que a infecção por Toxoplasmose pode ser fatal na AIDS.
Ainda, todo paciente com HIV deve iniciar e continuar a Terapia Antirretroviral (TARV) corretamente. Tomar a medicação diária certamente é menos trabalhoso e difícil do que enfrentar infecções oportunistas como a Toxoplasmose cerebral e os problemas que isso pode gerar.
Para as grávidas, é muito importante fazer o pré-natal adequado e evitar contato com gatos ou, ao menos, fazer a higiene corretamente quando em contatos de risco com felinos.
marcos goulart disse:
Foi bem interessante saber sobre essa doença que eu nem sabia que existia.
Por acaso você tem acesso a uma pesquisa sobre a planta AVELOZ e o HIV