Os acidentes com animais peçonhentos são separados em 4 tipos, de acordo com o animal causador: ofidismo (acidentes por cobra), escorpionismo (acidentes por escorpiões), araneísmo (acidentes por aranhas) e acidentes por lepidópteros (taturanas ou lagartas). Ao estudar essa área da Infectologia, é importante diferenciar os tipos de acidentes de acordo com a clínica e histórico do paciente e tentar descobrir a espécie causadora do ataque, para direcionar o tratamento da melhor maneira possível.
Tem uma incidência no Brasil de 14 acidentes por 100.000 habitantes, sendo relatados em torno de 20.000 casos por ano. A prevalência de acidentes com cobras fica nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, sendo que o gênero que mais causa acidentes ofídicos é o Botrópico (Jararaca). Além disso, 70{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} dos ataques ocorrem em pés e pernas. Vamos falar um pouco das características de cada família e seus principais gêneros e espécies:
Incluem os gêneros Bothrops (Jararaca), Crotalus (Cascavel) e Lachesis (Surucucu). As principais características das cobras dessa família são:
Inclui a Jararaca. A principal característica das cobras do gênero Bothrops é o término abrupto da cauda, com um afunilamento bastante considerável próximo do seu fim, como pode-se ver na imagem acima.
Seu veneno causa principalmente:
As manifestações clínicas no paciente picado pelo gênero Bothrops são divididas em sistêmicas e locais:
Pode-se classificar a picada pelo gênero Bothrops em leve, moderada e grave.
Exames complementares úteis:
O tratamento pode ser específico, com uso de soro antibotrópico (caso tenha-se a certeza de que o gênero causador e o Botrópico), antibotrópico-crotálico ou antibotrópico-laquético, ou inespecífico, com tratamento suportivo e sintomático.
Tem a Cascavel como a principal espécie. Seu veneno age de várias formas:
Na clínica, também dividem-se em sinais locais e sistêmicos:
A classificação do problema em leve, moderado e grave pode ser feito de acordo com a coloração da urina. A picada pode trazer como principal complicação a Insuficiência Renal aguda.
Exames complementares úteis: CK, aldolase, TGO, hemograma, função renal e tempo de coagulação.
O tratamento é feito com soro anticrotálico, além do tratamento inespecífico suportivo e sintomático.
Tem a Surucucu como principal membro. As cobras desse gênero são grandes (a Surucucu é a maior cobra das Américas e segunda maior do mundo) e inoculam grande quantidade de veneno.
As ações do seu veneno são: proteolítica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica (por meio de estímulo vagal).
O quadro clínico é bastante similar ao Botrópico, trazendo bradicardia, hipotensão e cólicas abdominais.
No Brasil, o gênero mais importante dessa família (que também conta com a cobra Naja) em relação a acidentes por animais peçonhentos é o Micrurus, que incluem as chamadas corais verdadeiras. Causam apenas 1{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} de todos os acidentes ofídicos no Brasil.
As principais características da coral verdadeira são:
As corais não-peçonhentas (também chamadas de corais falsas) não trazem dentes inoculadores e seus anéis são incompletos. Porém, até mesmo especialistas nessa área podem se confundir ao classificar uma coral falsa de uma verdadeira, então toda precaução é importante ao se deparar com uma coral.
O quadro clínico é muito grave e surge em menos de uma hora, com redução progressiva da força muscular, oftalmoplegia, ptose palpebral, paralisia do véu palatino e insuficiência respiratória. Se não tratado rapidamente, evolui para a morte.
Tem como principais gêneros peçonhentos no Brasil o Philodrya (cobra-verde) e o Cloelia (cobra-preta ou muçurana). As principais características desses ofídios são:
As ações do veneno dessas cobras são principalmente proteolítica, fibrinolítica e hemorrágica. Não há ação coagulante, então exames do tempo de coagulação são normais.
Não há soro específico para acidentes com esses ofídios, sendo o tratamento apenas sintomático.
O escorpionismo envolve acidentes com escorpiões e são menos frequentes do que os acidentes ofídicos. A gravidade está relacionada principalmente com a proporção entre veneno injetado e a massa corporal do indivíduo picado.
A principal espécie envolvida nos acidentes na região brasileira é a Tityus serrulatus, que está em expansão nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul e caracteriza os acidentes de maior gravidade.
A ação do seu veneno é basicamente a despolarização de terminações nervosas.
As manifestações clínicas incluem dor e parestesia no local da picada, além de manifestações sistêmicas como hipo ou hipertermia, sintomas Gastrointestinais, tremores, hipertonia, agitação e convulsão.
O tratamento é feito com uso do soro antiescorpiônico ou antiaracnídeo.
O araneísmo diz respeito aos acidentes causados por aracnídeos. Os gêneros mais importantes no Brasil sao o Phoneutria (Armadeira), Loxoceles (Aranha Marrom), Latrodectus (Viúva Negra), Lycosidae (aranha-de-jardim) e Theraphosidae (Caranguejeiras ou Tarântulas).
Tem como principal componente a Aranha Armadeira, muito conhecida no Brasil. Ela é particularmente grande, com 3 a 4 cm de corpo e em torno de 15 cm de envergadura. Quando está preparada para atacar, costuma se “armar”, ficando com as patas frontais levantadas e apoiando-se nas patas traseiras.
As ações de seu veneno são causados por aumento da liberação de neurotransmissores, causando excesso de despolarização de fibras nervosas.
O quadro clínico normalmente é leve, tendo como principal característica uma dor intensa no local de inoculação.
O tratamento é feito com anestésicos e soroterapia.
Inclui a temida Aranha Marrom, que mede em torno de 1 cm de corpo e 3 cm de envergadura e picam apenas caso sejam comprimidas.
As ações de seu veneno se dão por conta da enzima Esfingomielinase-D, que desencadeia uma resposta inflamatória tanto no local de inoculação como sistemicamente. As manifestações clínicas podem ser divididas em:
Em casos leves, o tratamento é sintomático e com o apoio de Prednisona, sendo o paciente acompanhado por pelo menos 72 horas. Nos casos moderados, trata-se com soro antiaracnídeo ou Prednisona por 5 dias. Em casos mais graves, o tratamento é feito com a associação entre o soro antiaracnídeo e a Prednisona, por 5 dias.
Traz as Viúvas Negras como espécies. Juntamente com a Aranha Marrom, elas fazem o grupo das aranhas mais venenosas do Brasil.
Seu veneno age em terminações nervosas sensitivas e no Sistema Nervoso Autônomo, sendo portanto neurotóxico.
As manifestações sintomáticas costumam aparecer 40 a 60 minutos após a picada e se caracterizam por sudorese, dor intensa no local de inoculação, dor abdominal e, em casos graves, choque.
Os lepidópteros são uma ordem de insetos que incluem borboletas, mariposas e traças. Porém, é importante na Infectologia a área que envolve as taturanas ou lagartas, que podem causar acidentes sérios. Causam acidentes as taturanas de mariposas que possuem cerdas pontiagudas, contendo glândulas venenosas. Os acidentes costumam acontecer quando pessoas encostam as mãos ou o corpo em árvores onde estas lagartas habitam.
Geralmente os acidentes com lepidópteros causam problemas leves, com dor local, inchaço e inflamação discretos. Porém, casos graves são causados pelo gênero Lonomia, que tem prevalência nas regiões Sul e Sudeste.
Não há definição exata para a ação de seu veneno, mas este causa uma síndrome hemorrágica trazendo quadro clínico com uma reação inflamatória local e discrasia sanguínea.
O tratamento é suportivo em todos os casos de acidentes com Lepidópteros, e no caso de acidentes com Lonomia, é ministrado o soro anti-lonomia.
Alan Gomes disse:
Esta de parabéns pelo pelo artigo, muito interessante