Exame de Homocisteína alta: o que é e valores de referência

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Durante uma avaliação laboratorial solicitada por seu médico ou médica, é possível realizar o exame de Homocisteína, uma substância presente no sangue e que tem implicações para a sua saúde quando em níveis elevados. Neste artigo, conheça mais sobre essa interessante substância, quais os efeitos de uma Homocisteína alta e quais os valores de referência comumente utilizados na prática médica.

Exame de Homocisteína: quando está alta, importância e valores de referência

O que é a Homocisteína?

A Homocisteína é um aminoácido não-proteinogênico, ou seja, não é utilizado como base para a construção de proteínas, que é a função mais comum dos aminoácidos em nosso corpo. Ela recebe esse nome por ser um homólogo (tem o mesmo grupo funcional químico) de um outro aminoácido, a Cisteína, esta sim envolvida na formação de proteínas.  A Homocisteína é produzida a partir de um outro aminoácido essencial muito importante para nosso organismo, a Metionina.

Homocisteína: Valores de Referência

Os níveis de Homocisteína variam de acordo com o sexo (homens costumam ter níveis maiores de Homocisteína circulantes) e aumentam gradativamente com a idade.

Os valores normais de Homocisteína e suas alterações variam de laboratório para laboratório, mas em geral seguem este padrão:

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Homocisteína alta: o que significa?

O aumento dos níveis de Homocisteína no sangue é chamado de Hiperhomocisteinemia. A Homocisteína em níveis elevados está associada a uma série de prejuízos à saúde:

  • A Homocisteína é considerada um fator de risco cardiovascular isolado, ou seja, quando elevada, está associada a um aumento da chance de se contrair doenças cardiovasculares.
  • A Homocisteína elevada predispõe à trombose, por prejudicar a estrutura de três importantes componentes das artérias: o colágeno, a elastina e os proteoglicanos.
  • Está associada a doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e o Parkinson, além de AVC, Esclerose Múltipla e doenças psiquiátricas por ser um componente neurotóxico e prejudicar a formação de neurotransmissores, dentre outras ações no nosso sistema nervoso.
  • Está ligada com o aumento da incidência de fraturas em idosos.
  • Está associada a outros importantes fatores de risco cardiovasculares como Hipertensão e doença renal.
  • Por um mecanismo conhecido por autoxidação, a Homocisteína gera os radicais livres Peróxido de Hidrogênio (H2O2), Superóxido e Hidroxila, que alteram a estrutura e função de diversas proteínas por promover o Estresse Oxidativo, contribuindo assim para uma série de doenças crônicas e para o envelhecimento. Nos vasos sanguíneos, esses radicais livres são considerados o primeiro passo na formação e desenvolvimento das placas de ateroma (que levam à Aterosclerose).
  • A Homocisteína é uma molécula pró-inflamatória, por estimular uma série de citocinas inflamatórias em nosso corpo como as Interleucinas β, 6 e 18, Metaloproteinases e MCP-1. O resultado é a inflamação na parede dos vasos sanguíneos, que predispõe à Aterosclerose e trombose.

Os níveis de Homocisteína estão estritamente relacionados ao Ácido Fólico (Vitamina B9), à Piridoxina (Vitamina B6) e à Cobalamina (Vitamina B12). Estas três importantes vitaminas estão envolvidas no metabolismo da Metionina e da Homocisteína. Quando temos carência de uma ou mais dessas vitaminas, a Homocisteína tende a ter seus valores elevados.

Por isso, na maior parte dos casos, um aumento dos níveis de Homocisteína está relacionado à deficiência de uma ou mais destas três vitaminas.

Outros fatores também levam ao aumento da Homocisteína circulante, tais como a falta de atividades físicas regulares e o Tabagismo.

Mais raramente, deficiências genéticas no metabolismo da Metionina e da Homocisteína podem levar à chamada Homocistinúria congênita, que está associada a problemas como alta estatura, retardo mental, convulsões, doenças psiquiátricas, aterosclerose acelerada, trombose e alterações oculares como luxação do cristalino, miopia, glaucoma, catarata, atrofia óptica, dentre outros.

Quando e como é feito o tratamento?

A Hiperhomocisteinemia ou Homocisteína elevada é tratada com a reposição das Vitaminas B6, B9 e B12, envolvidas no metabolismo da Homocisteína e da Metionina. A reposição com essas vitaminas costuma ser eficaz na redução dos níveis de Homocisteína e pode ajudar a reverter as lesões do endotélio associadas com o aumento da substância, assim como a regressão de placas de ateroma nas carótidas mesmo em pacientes com níveis normais de Homocisteína.

O Ácido Fólico isolado tem a capacidade de reduzir em até 25{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} os níveis de Homocisteína circulantes.

Outro tratamento que vem sendo estudado é o uso da Betaína, por um mecanismo semelhante ao Ácido Fólico (ambos são doadores de grupos químicos Metil e levam à conversão de Homocisteína de volta em Metionina, um composto benéfico à nossa saúde). A Betaína na dose de 6 g/d parece reduzir a Homocisteína em torno de 20{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563}. O uso de seu precursor, a Colina, também parece reduzir a Homocisteína.

Porém, alguns estudos têm indicado um aumento do risco cardiovascular, do colesterol e triglicerídeos com o tratamento com Ácido Fólico, Betaína e/ou Colina. Assim, mais estudos são necessários antes de realmente entendermos se vale a pena ou não suplementar com esses compostos.

O que se sabe é que você pode realizar uma alimentação saudável rica em Betaína e Colina e isso já, por si só, tende a reduzir os níveis de Homocisteína circulantes.

Ainda não existe consenso entre os pesquisadores do assunto sobre quando começar o tratamento com vitaminas do complexo B com o objetivo de reduzir a Homocisteína ou para prevenção primária de doenças cardiovasculares.

Obs.: quando falamos em prevenção primária, nos referimos a pessoas que nunca tiveram uma doença cardiovascular (como AVC, IAM ou aterosclerose). Já a prevenção secundária diz respeito a pessoas que já têm doenças cardiovasculares e precisamos prevenir novos quadros ou a piora da doença de base.

Alguns estudos de alta qualidade (randomizados, placebo-controlados) testando o uso de vitaminas do complexo B, mostraram redução da Homocisteína com esse tratamento, nos pacientes que não têm doenças cardiovasculares ainda (prevenção primária). Porém, em pacientes já portadores de algum tipo de doença cardiovascular (prevenção secundária), não se vê redução na incidência de mortalidade ou outros desfechos. Nesses últimos pacientes, as vitaminas do complexo B vêm sendo indicadas como uma substituição à terapia com Estatinas (Sinvastatina, Rosuvastatina, Atorvastatina e semelhantes) em casos de reações adversas graves a esses medicamentos.

De qualquer forma, fica a dica: modifique os hábitos de vida que sabidamente levam a aumento da Homocisteína e prejudica de várias outras maneiras sua saúde, como o Tabagismo e o Sedentarismo. Mantenha sua saúde em dia!

Referências:

  1. Cotton, F., Wautrecht, J. C., Léchevin, V., Macours, P., Thiry, P., Gervy, C., & Boeynaems, J. M. (2003). Reference intervals for plasma homocysteine by the AxSYM immunoassay after collection in fluoride tubes. Clinical chemistry49(2), 315-317.
  2. Humphrey, L. L., Fu, R., Rogers, K., Freeman, M., & Helfand, M. (2008, November). Homocysteine level and coronary heart disease incidence: a systematic review and meta-analysis. In Mayo Clinic Proceedings (Vol. 83, No. 11, pp. 1203-1212). Elsevier.
  3. Toole, J. F., Malinow, M. R., Chambless, L. E., Spence, J. D., Pettigrew, L. C., Howard, V. J., … & Stampfer, M. (2004). Lowering homocysteine in patients with ischemic stroke to prevent recurrent stroke, myocardial infarction, and death: the Vitamin Intervention for Stroke Prevention (VISP) randomized controlled trial. Jama, 291(5), 565-575.
  4. Debreceni, B., & Debreceni, L. (2014). The role of homocysteine‐lowering B‐vitamins in the primary prevention of cardiovascular disease. Cardiovascular therapeutics32(3), 130-138.
  5. Olthof, M. R., & Verhoef, P. (2005). Effects of betaine intake on plasma homocysteine concentrations and consequences for health. Current drug metabolism6(1), 15-22.
  6. Kim, Y. C., Ahn, C., & Jun, D. (2016). Inhibition of Lipogenesis by Betaine Involves Reduction of Homocysteine Via Upregulation of Betaine Homocysteine Methyltransferase.

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