Nesse artigo, vamos dar continuidade ao nosso guia completo sobre Hipertensão. Nós já falamos sobre diversos assuntos relacionados a essa doença, que afeta em torno de 36 milhões de pessoas no nosso país e mais de 60{2bcd453d7311fcd5d3fd79b4f06f2b23457405190b55b88de47449b7ddf1e563} dos idosos. Aqui, você vai conhecer mais detalhes sobre como aferir ou medir a pressão arterial da maneira mais correta, utilizando técnica e equipamentos (esfigmomanômetro com ou sem estetoscópio) adequados.
Apesar de o diagnóstico da pressão arterial através da sua medida ser algo relativamente simples, até mesmo médicos(as) experientes cometem erros durante a sua aferição. Juntos, vamos conhecer quais são esses erros e como evitá-los nesse processo, esteja você medindo sua pressão com um(a) médico(a) ou enfermeiro(a) ou em casa, sozinho(a) ou com o auxílio de alguém.
Diferente do que você talvez esteja pensando, é preciso tomar uma série de cuidados até mesmo antes de iniciar a aferição da sua pressão arterial. Isso evita que elevações artificiais aconteçam, o que pode invalidar um diagnóstico. Esses são os importantes detalhes durante a fase de preparo:
O posicionamento durante a medida da pressão também é importante:
As etapas detalhadas aqui utilizam os dois equipamentos padronizados para a aferição: um esfigmomanômetro e um estetoscópio, assim como estes na imagem do início desse artigo.
O manguito do aparelho de medir pressão (esfigmomanômetro) é aquele pedaço de tecido que infla e é envolto no braço. Para saber qual o tamanho ideal a ser utilizado, devemos saber a circunferência do braço.
Essa circunferência deve ser medida na área que chamamos de ponto médio entre o olécrano e o acrômio. O olécrano é a região do antebraço que chamamos popularmente por cotovelo. Já o acrômio é uma parte do da escápula, aquela que parece como uma tecla de piano do nosso ombro. O ideal é realizar essa medida pela região de trás do braço. Para entender melhor, veja a imagem ao lado.
A partir dessa medida, você pode escolher o manguito de acordo com os valores da tabela a seguir:
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Se você estiver utilizando um manguito de adulto na dimensão padrão (13 cm de largura e 30 cm de comprimento), é possível ainda fazer uma correção da pressão arterial, após a aferição, de acordo com essa circunferência. Para isso, utilize a tabela abaixo:
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Para entender o que é pressão sistólica e diastólica, veja nosso artigo sobre o que é a Pressão Arterial.
Exemplo de uso desta tabela: suponha que você esteja usando o manguito adulto padrão e, na hora de medir a circunferência do seu braço, encontrou o valor de 34 cm. Durante a medida da pressão, você encontrou o valor de 125/85 mmHg. Nesse caso, você deve diminuir 4 mmHg da pressão sistólica e 3 mmHg da pressão diastólica. O resultado final é de 121/82 mmHg.
É claro que essa tabela deve ser usada apenas para um controle bastante fidedigno da pressão arterial.
Após selecionar o manguito mais adequado (ou optar pela correção dos valores), posicione o manguito no braço, em torno de 2 a 3 cm acima da fossa cubital (que é o lado de dentro do cotovelo). A imagem ao lado irá lhe ajudar a localizar essa região.
Se o seu manguito tem a palavra “Artéria” escrita nele, posicione essa região em cima da área por onde passa a artéria braquial.
Com o manguito posicionado, procure o pulso da artéria braquial, pela palpação. Assim que encontrá-lo, coloque a campânula ou o diafragma (qualquer dos dois pode ser usado) sobre a artéria braquial. Não precisa pressionar o estetoscópio excessivamente: apenas o posicione com uma leve pressão. Após posicioná-lo, coloque o estetoscópio no ouvido.
Inicie a inflação do aparelho de medir a pressão. Em um determinado momento, você começará a ouvir os sons da pulsação da artéria. Esses são tecnicamente chamados de Sons de Korotkoff. Após o último desses sons desaparecer, insufle mais 20-30 mmHg no esfigmomanômetro.
Depois disso, inicie a desinflação do aparelho. A velocidade ideal é a redução de 2-3 mmHg a cada segundo.
Assim que você ouvir o primeiro som do batimento da artéria, anote-o: esse é o som da pressão sistólica (o primeiro valor da pressão arterial). Tecnicamente, este é o som da fase I de Korotkoff. Geralmente, esse som começa mais baixo do que os próximos.
Depois de o som surgir, ainda baixo, ele irá ficar mais alto à medida que você desinsufla. Depois, ele começa a diminuir novamente. Anote a pressão em que você ouviu o último som da artéria. Continue desinflando lentamente por mais 20-30 mmHg até se certificar de que aquele realmente foi o último som. Esse último som é o valor correspondente à pressão diastólica (o segundo valor da pressão arterial).
É importante sempre repetir pelo menos uma vez a medida da pressão arterial, com intervalo em torno de 1 minuto entre cada aferição. Se as duas medidas forem muito diferentes entre si, é importante realizar novas aferições.
Na primeira consulta com seu(a) médico(a), é também importante que ele realize uma medida no outro braço. Diferenças de até 10 mmHg são considerados aceitáveis.
É importante suspeitar de Hipotensão Ortostática, principalmente em diabéticos e idosos. Nesses casos, vale a pena realizar uma medida da pressão arterial enquanto sentado e uma nova, após 3 minutos, em pé. Uma queda de mais de 20 mmHg na pressão sistólica ou 10 mmHg na pressão diastólica faz o diagnóstico da Hipotensão Postural ou Ortostática.
Obesos – nesses pacientes, faz-se necessário o uso de manguitos mais longos e largos. Se um manguito muito pequeno for usado, a pressão arterial será superestimada, ou seja, você encontrará um resultado maior do que o verdadeiro. Se a circunferência do braço for superior a 50 cm, não existem manguitos disponíveis. Nesse caso, deve-se realizar a medida no antebraço e o pulso a ser auscultado com o estetoscópio é o da artéria radial.
Gestantes – a técnica é a mesma utilizada nos adultos em geral. Vale a pena também medir a pressão quando deitada para o lado esquerdo, no braço esquerdo. Os valores nessa forma de medida não devem ser diferentes daqueles encontrados quando sentada.
Idosos – esses pacientes requerem alguns cuidados especiais. Uma atenção especial deve ser dada à presença de arteriosclerose, que é o processo de endurecimento das artérias, natural do envelhecimento. Isso pode levar à chamada pseudo-hipertensão. Para verificar a sua presença, faça a insuflação do manguito pelo menos 30 mmHg acima do desaparecimento do pulso da artéria radial. Se a artéria radial ainda for palpável (parecendo um tubo endurecido), há pseudo-hipertensão e arteriosclerose. Vamos falar mais sobre isso em um próximo artigo. Se você tiver dúvidas sobre isso, por enquanto, deixe um comentário.
Os idosos ainda apresentam uma maior frequência do chamado hiato auscultatório, que na verdade pode afetar qualquer pessoa. Esse hiato consiste no desaparecimento dos sons da artéria quando você está desinflando o manguito, entre a pressão sistólica e a diastólica. Porém, se você não tomar cuidado, os sons da artéria podem retornar após algum tempo. Se você não pegar esse hiato, pode estar subestimando a pressão sistólica e superestimando a pressão diastólica. Assim, é necessário uma maior atenção ao medir a pressão dos idosos.
Hoje, temos à disposição no mercado uma série de marcas de aparelhos automáticos ou semi-automáticos. Os mais conhecidos realizam a medida da pressão arterial na região do pulso. A maior vantagem é que eles permitem que você realize as medidas da sua pressão sozinho e de maneira mais fácil, já que não precisa utilizar um estetoscópio ou insuflar o manguito.
Todo aparelho de aferir a pressão (esfigmomanômetro) vendido no Brasil deve passar por uma avaliação do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), um órgão estadual. Após a sua aprovação, ele recebe um selo do Inmetro. É muito importante que você verifique se o aparelho que está adquirindo ou usando contenha este selo. Só assim você pode se certificar de que as leituras da sua pressão arterial são adequadas!
Confira aqui a lista dos modelos aprovados pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
Para que o seu esfigmomanômetro esteja em pleno funcionamento e faça leituras fidedignas da sua pressão arterial, é preciso calibrá-lo anualmente. Apesar de parecer pouco importante ou fácil de esquecer, somente assim você garante um diagnóstico e acompanhamento adequados da sua pressão. Ao consultar seu(a) médico(a), exija também um aparelho aprovado pelo Ipem/Inmetro e que esteja com sua calibração em dia.
Espero que você tenha gostado desse artigo! Apesar de parecer simples, saber medir a pressão corretamente depende de muitos detalhes, como você pôde perceber. A função desse artigo é detalhar ao máximo a técnica mais adequada para essa medição.
Continue lendo sobre Hipertensão no MedSimples:
Paulo Moreira disse:
Bom dia, excelente o seu artigo, gostaria de saber se aferir a pressão deitado é errado? outra coisa, o certo é aferir a pressão antes de tomar os remédios para pressão e quantas vezes ao dia é correto aferir a pressão,
Obrigado,
Alan Niemies disse:
Olá novamente, Paulo. Fico feliz que tenha gostado desse artigo também!
A aferição da pressão deitado não está incorreto, porém só deve ser utilizado em casos necessários (como pacientes acamados, ou no caso das gestantes, como comentei). Isso porque a medida da pressão enquanto deitado eleva os seus níveis, comparado com a posição sentada. Isso ocorre por uma série de motivos. O mais importante deles é que, quando deitado, o retorno venoso dos seus membros inferiores é facilitado. Assim, chega mais sangue do lado direito do seu coração e ele será transportado para os pulmões e então para o lado esquerdo do coração. Com essa maior quantidade de sangue no ventrículo esquerdo, mais sangue também é ejetado na aorta (o que chamamos de Débito Cardíaco), e isso acaba aumentando os valores da pressão.
Como todas as diretrizes de definição, diagnóstico e tratamento de Hipertensão levam em consideração principalmente a posição sentada, essa é a preferível.
Em relação ao horário do dia: mais importante do que definir esse horário, é garantir que você está fazendo as medições sempre no mesmo horário todos os dias. Nossa pressão flutua ao longo de 24 horas, então para que você tenha o controle mais adequado, é necessário acompanhar nos mesmos períodos cada dia. Uma boa rotina é realizar a aferição de manhã, antes do café da manhã e antes de utilizar sua medicação. Nesse momento, os níveis do medicamento no seu sangue estarão o mais baixos do dia. Uma segunda medição logo antes de tomar a sua medicação novamente (se você toma 2x ao dia ou mais) também é interessante. Dessa forma, você tem uma ideia boa de como suas medicações estão funcionando. Se você estiver com a pressão controlada nessas fases, sua medicação está atuando bem também nos momentos em que ela já está acabando no seu sangue.
Espero ter ajudado, abraço e obrigado pela visita!
Paulo Moreira disse:
Boa tarde Alan,
Muito o brigado pelas informações, mas só para te posicionar eu esqueci de comentar que já estou sendo acompanhado por um psiquiatra, ele passou o seguinte tratamento, ½ frontal de 1mg na parte da manhã e Cloridrato De Paroxetina jundo com o café da manhã, e o meu cardiologista passou Benicar de 40mg e Hidroclorotiazida de 25mg e não de 50mg conforme eu tinha mencionado no outro post.
A minha dúvida, seria a seguinte eu estou tendo picos de pressão elevado ( 14 ou máximo de 15×8) por causa ao TAG ou porque estou virando um hipertenso mesmo..??? as vezes acho que a medicação para pressão arterial não precisaria ser usada.
Quando a pressão chega a 14 ou 15, eu sinto uma pequena pressão na cabeça, eu acho que devo ser mais sensível, pois tenho um colega que trabalha comigo que a pressão dele chega a 17×10 e ele não sente absolutamente nada, tem alguma explicação???
As informações no site está muito explicativa e é legal essas informações!!!!
Alan Niemies disse:
Olá novamente, Paulo.
Que bom! Fico mais tranquilo sabendo que também está usando a Paroxetina. Assim, o seu tratamento fica mais otimizado. Infelizmente não temos como responder essa sua pergunta, Paulo. De qualquer forma, uma pressão elevada predispõe a problemas cardiovasculares, portanto deve ser tratada. Se você ainda está atingindo valores como 150 mmHg da pressão sistólica, é importante continuar o tratamento. Recentemente, temos também um estudo que saiu no fim do ano passado mostrando que o controle mais agressivo da pressão (visando uma pressão abaixo de 120 mmHg) também pode ser útil.
Assim, se eu fosse o seu médico, o recomendaria a manter a medicação que está usando hoje.
Em relação aos sintomas, a DOR ou qualquer outro tipo de sensação similar é sempre muito subjetiva e varia de pessoa para pessoa. Na prática clínica, sempre vemos pacientes com as mesmas doenças, na mesma gravidade, porém com sensações como dores em graus bastante variados.
Espero ter lhe ajudado novamente e boa sorte com seu tratamento. 🙂
Paulo Moreira disse:
Boa tarde Alan,
Muito obrigado pelo retorno, e muito obrigado pelas explicações, foram muito úteis…. Continuo com meus remédios para pressão e estão dando super certo, está bem normalizado, o problema só é quando eu corro uns 15km, minha pressão após 2 horas do treino chega a cair 9×6, mas do restante está tudo ótimo, praticando minhas corridas semanais..
abraço e estarei sempre acompanhando seus artigos no site,
Paulo Moreira disse:
Bom dia Alan,
Estou de volta para ver se você pode me ajudar , eu estou firme no meu tratamento, eu estava aferindo minha pressão e estava super normal, variando de 11 a 13 por 8 no máximo, ae fui fazer um teste e deixei de tomar o Hidroclorotiazida por 5 dias, apartir do 5º dia minha pressão começou a aumentar voltou a 14×8, minha dúvida, é depois que paramos de tomar o medicamento, quantos dias ainda fica no nosso organismo?
Ah, lembrando que voltei a tomar ontem o Hidroclorotiazida,
abraço